segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Zé Ramalho - Zé Ramalho I (1977)


"Neblina turva e brilhante, em meu cérebro coágulos de sol..."


Músicas:
01. Avôhai
02. Vila do Sossego
03. Chão de Giz
04. A Noite Preta
05. A Dança das Borboletas
06. Bicho de 7 Cabeças
07. Adeus Segunda-Feira Cinzenta
08. Meninas de Albarã
09. Voa, Voa
10. Avôhai*
11. Chão de Giz*
12. Bicho de 7 Cabeças*
13. Vila do Sossego*
14. Rato do Porto*
(*) Bônus da reedição de 2003, gravadas apenas com violão e voz.

Primeiro álbum solo de Zé Ramalho (segundo da sua carreira, se contarmos o obscuro Paêbirú), este é, juntamente com os dois discos posteriores, um dos pilares centrais da carreira do compositor cearense. São notadas influências diversas, sendo as principais a cultura nordestina e Bob Dylan, com uma ponta de psicodelia em algumas passagens.

Destaque para as três primeiras faixas, clássicos que desde então nunca faltaram em shows do cantor, e para o arranjo de todas as músicas do disco, em especial para as linhas de baixo. A música Avôhai conta com a participação especial do tecladista Patrick Moraz, responsável pelos teclados no clássico Relayer da banda de rock progressivo Yes.

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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Caetano Veloso - Caetano Veloso (1968)


"Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento, no sol de quase dezembro, eu vou."

Músicas:
01. Tropicália
02. Clarice
03. No Dia Em Que Eu Vim-me Embora
04. Alegria, Alegria
05. Onde Andarás
06. Anunciação
07. Superbacana
08. Paisagem Útil
09. Clara
10. Soy Loco Por Ti, América
11. Ave Maria
12. Eles

Tente imaginar uma mistura de guitarras elétricas, metais, instrumentos indianos, um pouco de Stravinsky, baião, iê-iê-iê, ritmos latinos como o mambo, algo do "Sgt. Peppers..." dos Beatles e do "Pet Sounds" dos Beach Boys, a atmosfera do filme "Terra Em Transe" de Glauber Rocha e uma vontade gigantesca de quebrar todos os paradigmas. Assim você terá uma noção, ainda vaga, do que é esse disco.

O Caetano deste disco não parece, nem de longe, o Caetano que gravou o caretíssimo e monótono ''Domingo", primeiro disco dele, algum tempo antes. Lançado em janeiro de 1968, o que se tem aqui é o primeiro trabalho do chamado Tropicalismo (o emblemático ''Tropicália ou Panis et Circenses" seria lançado meses depois), trabalho este que condensa tudo o que o movimento passava, desde a foto do cantor no melhor estilo Valderrama em sua coloridíssima capa até o final da última faixa, com a frase ''Os Mutantes são demais!", tudo transpira inovação. Bom, os ideais daqueles artistas e o impacto causado pela sua arte até hoje causam discussão, então vou me enfocar no mais importante, que é a música.

O disco já começa de forma inusitada, com um improviso do baterista Dirceu no microfone (nota: o Gaus mencionado nessa parte era o técnico de som do estúdio). Em seguida os primeiros acordes de Tropicália ressoam. Só essa música, com seu turbilhão de elementos musicais distintos (música clássica, rock e baião juntos em menos de 4 minutos de música...) e as várias citações de elementos da nossa cultura na letra, já daria páginas e páginas de interpretações. Em seguida vem Clarice, a música mais ''MPB'' do disco, tanto é que foi incluída no álbum só depois de muita resistência por parte do cantor. De fato ela fica meio deslocada, mas não deixa de ser uma bela canção.

No Dia Em Que Eu Vim-me Embora tem uma letra autobiográfica, mas ao contar a migração do personagem ''sozinho pra capital'', ela acaba se desprendendo do tom de desabafo pessoal para se tornar a história de tantas e tantas outras pessoas que passaram pela mesma situação. E em seguida vem Alegria, Alegria, outro capítulo a parte. Essa é uma música interessante, o clima de nostalgia dela é tocante, não só para os que viveram aquele final de década tão marcante, mas também para aqueles que não viveram aquilo. Nostalgia do não vivido, isso parece incoerente, mas é exatamente o que a música passa, seja pelo ritmo marchante da música, seja pela ode à liberdade contida em sua letra, enfim...

Apesar de toda a sua significância, o disco não é irrepreensível. Músicas como Onde Andarás e Clara não apresentam muito brilho, sendo daquelas facilmente 'puláveis'. Superbacana é curta e simples, tanto lírica quanto musicalmente, mas sua qualidade é justamente essa simplicidade que a torna tão divertida. Soy Loco Por Ti, América (que carrega o pesado fardo de já ter sido abertura de uma novela) é uma homenagem a Che Guevara, morto um ano antes, e fala com orgulho do continente e do seu povo em um rasgado portunhol, sobre um 'swingado' ritmo que apresenta muitas características do mambo, em especial na percursão e na inspirada linha de baixo. Jà a faixa que fecha o disco, Eles, é outro grande destaque, e infelizmente na maioria das vezes é subestimada. Instrumentos indianos, a viagem dos Mutantes dos intrumentos, a letra dotada de uma equilibrada e sutil crítica. Encerramento perfeito.

Como a obra que inaugurou um movimento tão polêmico como o Tropicalismo, é óbvio que este disco já tem seu lugar cativo na história da música brasileira. Marcado pela universalidade, o álbum aproxima em vários momentos a MPB de elementos até então naturalmente distantes dela, como as guitarras elétricas e a música pop em geral, o que causou estranhamento geral na época do lançamento e até hoje ainda não é muito bem compreendido por alguns. O fato é que este é um daqueles trabalhos imprescindíveis para quem quer entender um pouco melhor os rumos tomados não só pela música, mas pela cultura brasileira em geral.

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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Bacamarte - Depois do Fim (1983)


"Olha o que restou sobre a terra, se é a Terra que olhamos agora..."

Músicas:
01. UFO
02. Smog Alado
03. Miragem
04. Pássaro de Luz
05. Caño
06. Último Entardecer
07. Controvérsia
08. Depois do Fim
09. Mirante das Estrelas

Um dos melhores exemplos para ilustrar a negligência do Brasil para com sua própria cultura é sem dúvidas esse disco gravado pela banda fluminense de rock progressivo Bacamarte. Pouquíssimo conhecido pelo público brasileiro, o álbum Depois do Fim é aclamado por fãs de rock progressivo do mundo inteiro como um dos grandes álbuns do gênero já lançados, sendo colocado em pé de igualdade com trabalhos como Close To The Edge, do Yes, e In The Court Of The Crimson King, do King Crimson.

A abertura, composta por um violão conduzido com maestria pelo guitarrista e mentor da banda, Mario Neto, seguido pelo baixo forte e por uma marcante melodia na flauta, já apresenta o elevado nível que se mantém até o último acorde de Mirante das Estrelas, mesmo com toda a variedade presente ao longo do álbum. Variedade essa representada pela coexistência de elementos como teclados tipicamente setentistas, acordeões, solos de guitarra inspirados em guitarristas como Steve Howe e Steve Hackett e o vocal de Jane Duboc, declaradamente influenciada pelo jazz.

É possível notar influências de Genesis (como na primeira faixa, após a introdução), Yes (principalmente nas guitarras e no baixo), Jethro Tull (como na introdução de Smog Alado), das bandas italianas de progressivo, como Banco del Mutuo Soccorso e Premiata Forneria Marcconi e até mesmo da própria música popular brasileira (presente nitidamente em Pássado de Luz). Essas influências, empregadas sempre de maneira equilibrada e magistral, somadas ao toque pessoal da banda nas composições, ao virtuosismo nunca exagerado dos músicos (com destaque para o guitarrista Mario Neto, que consegue alternar de solos virtuosos à la Steve Howe a um violão clássico hispânico que lembra John Williams) e à coesão que o grupo imprime nos arranjos, resultam nesse lendário disco que é idolatrado por pessoas do mundo inteiro.

Um trabalho de certa forma complexo, mas sem exageros, executado por músicos de primeira categoria e que coleciona elementos musicais dos mais diversos lugares do mundo. Mesmo com o relativo sucesso alcançado com o lançamento desse álbum, principalmente na Europa e no Japão, a banda acabou se separando em 1984. Apesar de merecer um lugar de destaque na música brasileira, o Bacamarte é criminosamente relegado a um décimo plano, permanecendo um privilégio dos poucos aficcionados em rock progressivo. Baixe, ouça e espalhe, um tesouro desses não pode ficar no obscurantismo aqui enquanto é idolatrado por pessoas dos quatro cantos do mundo!

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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Tom Zé - Grande Liquidação (1968)


"A revista moralista traz uma lista dos pecados da vedete, e tem jornal popular que nunca se espreme porque pode derramar."

Músicas:
01. São São Paulo
02. Não Buzine Que Eu Estou Paquerando
03. Namorinho de Portão
04. Catecismo, Creme Dental e Eu
05. Curso Intensivo de Boas Maneriras
06. Glória
07. Camelô
08. Profissão Ladrão
09. Sem Entrada E Sem Mais Nada
10. Parque Industrial
11. Quero Sambar Meu Bem
12. Sabor de Burrice

Em 1968, após uma grande insistência de Caetano Veloso, Tom Zé aceita sair de Salvador rumo à São Paulo com Caetano, Gil, Gal e Bethânia para encenar a peça Arena Canta Bahia, sob direção de Augusto Boal. Ao chegar na capital paulista se depara com um mundo completamente diferente do que estava acostumado, e nesse contexto compõe as músicas que fariam parte deste seu primeiro disco.

Lançado em meio a efervescência da Tropicália, esse é o trabalho de Tom Zé que mais se identifica com o movimento, possuindo musicalmente muitas ligações com os discos lançados pelos outros bastiões do tropicalismo na época, como Caetano Veloso e Gilberto Gil. O disco é marcado pela coexistência, muitas vezes numa mesma canção, de elementos naturalmente incompatíveis, como por exemplo na música Sabor de Burrice, na qual há a mistura do 'iê-iê-iê' com a música sertaneja sobre uma base calcada em um órgão que se assemelha ao de algumas bandas surgidas no final dos anos 60, como o Deep Purple.

Dotadas de toda a ironia e o espírito crítico característicos do compositor, as letras são um caso a parte. Todas as músicas têm um teor crítico forte, mesmo a São São Paulo, que apesar de parecer uma ode à cidade soa muito mais como uma crítica carregada de conformismo. Críticas contra a felicidade superficial advinda do consumismo (em Parque Industrial), a correria esquizofrênica da cidade grande (em Não Buzine Que eu Estou Paquerando), a ignorância geral (em Sabor de Burrice) e a vários outros aspectos da sociedade são apresentadas sempre de forma irônica e até certo ponto elegante (como disse um crítico americano do qual não me recordo o nome, "Tom Zé tem todas as características de Machado de Assis"... exagero ou não, algum fundo de verdade essa afirmação tem).

Um disco que sintetiza várias nuances da música brasileira, mostrando a visão de um homem com sensos crítico e estético enormes e que, tendo vivido seus primeiros anos num ambiente rural, se depara na cidade grande com vários aspectos da vida que lhe parecem vazios e sem sentido, o que faz desta uma obra-prima ousada, única e bizarramente esquecida e deixada em segundo plano no nosso cenário musical... ê Brasil.

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domingo, 7 de junho de 2009

Edu Lobo & Chico Buarque - O Grande Circo Místico (1983)


"...não sei se é um truque banal se um invisível cordão sustenta a vida real."

Músicas:
01. Abertura do Circo
02. Beatriz (Milton Nascimento)
03. Valsa dos Clowns (Jane Duboc)
04. Opereta do Casamento
05. Dança de Lily Braun
06. A História de Lily Braun (Gal Costa)
07. O Anjo Azul (Márcio Montarroyos)
08. Meu Namorado (Simone)
09. A Bela e a Fera (Tim Maia)
10. Sobre Todas as Coisas (Gilberto Gil)
11. A Dança Dos Banqueiros
12. Ciranda da Bailarina
13. O Circo Místico (Zizi Possi)
14. A Levitação
15. Na Carreira (Edu Lobo e Chico Buarque)
16. Beatriz (Tom Jobim e João Daltro)

Para inaugurar o blog, nada melhor do que aquela que é, muito provavelmente, a trilha sonora mais celebrada já feita para um espetáculo nacional, e um exemplo sublime da união entre letra e música.

Este disco é a trilha sonora, assinada por Edu Lobo e Chico Buarque, do espetáculo homônimo baseado no poema O Grande Circo Místico do poeta Jorge de Lima e encenado pelo Balé Teatro Guaíra em uma turnê nacional de quase dois anos, e que teve como público mais de 200 mil pessoas. A trilha sonora era de tamanha qualidade que acabou ganhando vida própria, ganhando status de clássico da música popular brasileira e figurando entre os mais bem trabalhados discos já produzidos nesse país.

O principal diferencial do trabalho é a unidade formada pelas músicas de Edu Lobo e pelas letras de Chico Buarque, o que, somadaa à ótima escolha dos intérpretes, confere às músicas uma expressividade gigantesca. A música sempre acompanha as nuances propostas pela parte lírica, criando um fio que liga todas as músicas do disco e fazendo desta uma obra sólida e que depende da compreensão da música como um todo para que seja entendida por completo. Tal característica fica evidente na faixa A História de Lily Braun: enquanto a letra mostra a felicidade da protagonista no período que antecede seu casamento, ela é acompanhada por um instrumental alegre típico das big bands tradicionais de jazz, mas quando a letra mostra a infelicidade que abate seu personagem depois do casamento, a música cria um clima mais melancólico, deixando o jazz anterior e passando a uma base menos alegre.

Um ponto interessante do disco é a constante contraposição entre o sublime e o real, o divino e o terreno, sendo dois grandes exemplos disso as músicas Beatriz e A Bela e a Fera. Na primeira, temos uma música melodiosa e com uma atmosfera de certa forma triste, acompanhada de uma letra que enaltece um amor platônico com a figura da amada metaforizada na figura de uma artista circense, e possuidora de uma interpretação de Milton Nascimento que dispensa qualquer comentário. Já a segunda mostra justamente o contrário, pois se constrói sobre uma base bem funk e uma interpretação maliciosa de Tim Maia, com a letra se configurando em uma irônica declaração de amor feita por um tipo declaradamente longe de qualquer idealização, deixando o divino da primeira música de lado para que seja enfocado um aspecto mais mundano do amor.
Enfim, esse é um disco ímpar da música brasileira, tendo em si a junção do que de melhor têm a oferecer dois dos maiores compositores já nascidos neste país. Obrigatório!

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